O pay-for play chegou para ficar?
A NCAA encontra-se em uma encruzilhada onde ou decide mudar seu modelo ou encara o risco da extinção
Olá, fã do college!
O esporte universitário está mudando. E bem rápido! Não existe nenhuma regra ou tradição desse nosso mundinho peculiar a salvo de revisão. Hoje, vou abordar duas delas que estão sob forte escrutínio público no momento: a liberação do chamado pay-for-play e as propostas de proibição de invasões de campo/quadra.
O pagar para jogar chegou para ficar no college?
Desde que o esporte universitário passou a ser jogado lá pelo final do século 19, muita coisa mudou. Mas uma coisa sempre foi a mesma: atletas universitários não recebem para jogar.
Mas isso caiu por terra (pelo menos provisoriamente) na semana passada.
Primeiramente, vamos repassar a notícia:
Na sexta-feira, um juiz federal de Tennessee concedeu uma liminar proibindo a NCAA de fazer valer suas regras que proíbem a utilização de negócios relacionados ao NIL (nome, imagem e semelhança) como ferramenta de recrutamento de atletas. Ou seja, os coletivos (se quiser saber mais sobre os coletivos, leia a newsletter da semana passada) não estão mais proibidos de negociar acordos com os atletas antes deles se comprometerem com uma escola. A NCAA também está proibida de punir retroativamente os jogadores que utilizem da liminar para realizar acordos nestes moldes.
Da forma como está hoje, a decisão significa o prego do caixão no modelo de amadorismo imposto pela NCAA em toda a sua existência. Afinal, nada mais proíbe que negócios estipulem quem um atleta deva se comprometer com determinada escola.
Não há sequer a vedação de previsão de cláusulas de desempenho, algo inimaginável anteriormente.
Embora algumas leis estaduais ainda proíbam o uso do NIL como ferramenta de recrutamento, tais normas devem ser logo derrubadas caso o julgamento final confirme a liminar concedida na semana passada. Os legisladores estaduais não vão querer que suas escolas fiquem em desvantagem durante o recrutamento.
Claro, a liminar pode não ser confirmada no final do processo em questão, que ainda deve demorar alguns meses. Mas, sinceramente, ficarei chocado se a NCAA conseguir reverter esse cenário e conseguir fazer valer novamente seu regramento restritivo quanto ao NIL.
Depois de décadas e décadas, o modelo de amadorismo da entidade vem rapidamente sendo solapada em diversas frentes.
A atuação da NCAA como órgão regulador do esporte é essencial. Porém, sua insistência em aplicar regras anacrônicas é aterradora.
Basta lembrar que até 2021, um atleta poderia perder a elegibilidade se desse um mísero autógrafo. Hoje, graças a Justiça americana e ao legislativo de diversos estados, a NCAA foi forçada a permitir pagamentos ao atletas via negócios NIL.
Lembre também que os atletas também eram obrigados a não jogar por uma temporada caso quisessem se transferir de escola mais de uma vez. Hoje, graças a uma decisão recente de um juiz de West Virginia, os atletas podem se transferir quantas vezes quiser.
O que tem em comum entre essas mudanças? A NCAA não teve nada a ver com elas. A entidade de recusa a mudar seu modelo e o resultado é isso que estamos vendo: ela está sendo forçada a mudar.
Ao se apegar tão firmemente ao secular modelo de amadorismo, a NCAA luta contra o atual zeitgeist dos esportes universitários. Se insistir nadar contra essa corrente, ela corre o risco de ser arrastada rumo aos livros de história.
As invasões de campo devem ser proibidas?
O dilema sobre como regular as invasões de campo nos esportes universitários voltou a baila depois que Kyle Fllipowski, de Duke, se lesionou após um torcedor trombar com ele enquanto invadia a quadra para comemorar o upset de Wake Forest. Embora o jogador tenha torcido o joelho, ficou a sensação de que as consequência poderiam ser ainda piores.
Esse é apenas mais um caso lamentável de uma série de incidentes provocados por invasões como essa.
Por ser uma tradição profundamente enraizada nos esportes universitários, escolas e conferências, ainda não descobriram uma forma adequada de lidar com ela.
Recentemente, a SEC aumentou consideravelmente as multas contra as escolas que permitirem as invasões de campo. Porém, ela teve pouca repercussão prática, visto que as invasões na conferência não pararam, sequer diminuíram.
Reconheço que não há uma solução fácil para a questão, porém acredito que ela não passa pela proibição pura e simples da tradição. Raramente a lei prevalece quando a cultura não acompanha. Por isso, todas as tentativas de banir as invasões estão fadadas ao fracasso na atual conjuntura.
Para começar, deveriam ser em criados protocolos de segurança que organizem ao máximo o frenesi da torcida ao final do jogo. A criação de corredores de segurança para os jogadores após o apito final e a implantação de barreiras que atrasem a entrada das pessoas no campo são bons pontos de partida. E, claro, muita campanha de conscientização e punição a infratores por parte das escolas.
Tais medidas, por certo, tiram um pouco do charme das invasões de campo, que é o momento mais catártico de uma vitória histórica. Porém, nenhuma tradição deve ficar acima do bem-estar e saúde das pessoas.