À sombra do antecessor
Como as atuais dificuldades de Duke e North Carolina na temporada evidenciam a dificuldade na sucessão de técnicos lendários
Olá, fã do college!
Fevereiro é um do melhores meses do ano para os fãs do college basketball. Só perde para março e para as loucuras do March Madness. É em fevereiro que a disputa pelos títulos de conferência está mais acirrada e a corrida por uma vaga na pós-temporada chega em seus momentos decisivos. Muitos times já estão praticamente garantidos no torneio; outros ainda tem precisam de algumas vitórias para não ficar de fora da corrida pelo título nacional.
Duke e North Carolina, que raramente ficam de fora do torneio da NCAA, encontram-se no incomum grupo de times que estão “na bolha”. As duas superpotências do basquete universitário têm feito temporadas bem abaixo do que os torcedores se habituaram a ver nas últimas décadas. O fato deles serem rivais históricos não impede que compartilhem essa incômoda má fase.
Nos últimos dez jogos, Duke (18-8) acumula quatro derrotas, inclusive uma desmoralizante sofrida para Miami no começo do mês. North Carolina (16-10), por sua vez, encontra-se em uma situação mais delicada: foram quatro derrotas nos últimos cinco jogos, o que colocou o programa em alerta máximo para o risco de ficar fora do March Madness.
Seria algo extraordinário os Tar Heels ficarem de fora do torneio um ano depois de terem chegado à final nacional. Em 2022, em sua primeira temporada após a aposentadoria da lenda Roy Williams como técnico, eles venceram facilmente a cinderela Saint Peter's no Elite Eight e, no fim de semana seguinte, venceram o arquirrival Duke no Final Four, o que representou a última partida de Mike Krzyzewski no comando dos Blue Devils.
Além da má-fase, Duke e North Carolina compartilham o desafio de emplacar um sucessor após a aposentadoria de um dos técnicos mais vencedores de sua história. Roy Williams, três vezes campeão nacional com os Tar Heels (2005, 2009 e 2017), se aposentou em 2021, dando lugar para o atual técnico, Hupert Davis. Já Mike Krzyzewski, cinco vezes campeão nacional com os Blue Devils (1991, 1992, 2001, 2010 e 2015), passou o bastão para Jon Scheyer.
Tanto o Coach K quanto Roy Williams implantaram uma cultura vencedora em seus respectivos programas, de forma que era difícil imaginar como seria o time sem eles.
Inevitável neste momento se perguntar: como se preservar o legado destes técnicos? Pode um programa sobreviver apenas com o impulso institucional? Como garantir que o que foi construído sobreviva a saída do treinador? Deve o novo técnico replicar a filosofia vigente ou deve implantar seu próprio sistema?
Estas são questões muito palpáveis dentro todo programa que possui um técnico vencedor de longa carreira. Exemplos como esse temos inúmeros. No college football, é possível citar Alabama e Nick Saban, Clemson e Dabo Swinney, Oklahoma State e Mike Gundy, entre outros; no college basketball, temos Jim Boeheim, que desde 1976 (!!) é head coach de Syracuse.
O torcedor de de North Carolina está um pouco mais habituado a ideia de não ter uma lenda comandando a equipe do lado de fora da quadra. A primeira temporada de Hupert Davis foi realmente boa e aumentou a confiança de que o time permaneceria dominante. Contudo, o desempenho do time no ano 2 tem sido bem mais modesto, o que tem plantado dúvidas na cabeça de todos. Estaria Davis a altura do legado deixado por seu antecessor? E ele precisaria estar?
Os Blue Devils, por sua vez, estão tentando se encontrar em sua primeira temporada pós-Mike Krzyzewski. A maioria dos torcedores de basquete vivos não sabia o que era ver Duke não ser liderada por um treinador que é sinônimo de sucesso no programa. Por enquanto, suas chances de participação no March Madness são apenas um pouco melhores que as de UNC. Não há um torcedor de Duke vivo que não se pergunte se o programa tomou a decisão certa ao promover Jon Scheyer ao cargo de head coach.
Não há motivos para duvidar do sucesso de Scheyer ou de Davis. E também não há motivos para acreditar que, se eles falharem, outros treinadores também falharão.
Quando você é uma potência como Duke e North Carolina são no basquete, você sempre atrairá o interesse dos melhores treinadores que o esporte tem a oferecer, tenha ele ou não laços profundos com o programa.
Porém, isso não é garantia de sucesso a longo prazo. Veja o caso de Georgetown, campeão nacional em 1984, onde uma série de contratações equivocadas levaram o programa quase à irrelevância. No futebol americano, podemos citar o exemplo Florida State pós-Bobby Bowden, ou de Nebraska pós-Tom Osborne, potências de outrora que hoje lutam para não cair na irrelevância.
Por outro lado, embora seja mais fácil atravessar uma má fase quando há um técnico vencedor tomando conta de tudo (vide o que tem acontecido com o New England Patriots e Bill Belichick), isso não significa que o programa seguirá vencendo. Veja o exemplo de Syracuse, campeão nacional em 2003, que viu sua relevância aumentar e declinar sob o comando de Jim Boeheim.
Fato é que, mesmo que Duke e North Carolina fiquem de fora do torneio da NCAA este ano, eles permanecerão na prateleira mais alta do college basketball. Os problemas realmente aparecerão se os maus resultados persistirem ao longos dos anos, pois, ao contrário do esporte profissional, no college, se manter dominante é essencial para recrutar os melhores jogadores, fechar contratos de TV mais lucrativo e garantir que seus jogadores recebam mais dinheiro via NIL (direitos de imagem).
Trata-se de um momento complexo na história destes programas. Porém, pelo menos uma coisa é certa: o destino de ambos começará a ser traçado nos próximos jogos.